Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Provérbio Popular
Foi com tristeza que recebi a notícia de que a FHM Portuguesa ia acabar. Mas não foi uma tristeza de trazer lágrima ao canto do olho, foi uma espécie de inquietação que se tem quando o verão acaba.
Para mim a FHM foi isso, uma espécie de verão que com o passar do tempo acabou. Inevitavelmente.
Foi em Abril de 2005 que a Imprensa Publishing lançou a For Him Magazine em Portugal. Uma revista masculina que nascera em 1995 no Reino Unido e que era um êxito comercial em todo o Mundo.
O primeiro número da revista masculina em Portugal foi um boom. A menina da capa era a Rita Andrade, que na altura apresentava o Curto Circuito, programa de culto da Sic Radical. Teve sorte em ser a capa da primeira FHM em Portugal, pois fazia lembrar uma escuteira hiper-simpática que vendia bolachas, mas que também escondia um corpo de deusa por debaixo daquela farda enfadonha. Deixou o estatuto de menina bonita do programa para teenagers, e passou a ser uma das mulheres mais desejadas em Portugal. E hoje é o que é. Uma mulher com classe e talentosa. Um exemplo para as pseudo-famosas que esgravatam e esgravatam para aparecerem em capas de revistas.
Esta primeira FHM deixou-me com água na boca: o design era verdadeiramente apelativo, a produção fotográfica com a Rita estava fenomenal, o conteúdo era empolgante, e tinha ainda um slogan fantástico: “A revista masculina que vai mudar isto de vez”. PERFEITO!
E mudou mesmo. A fórmula era simples: mulheres+carros+futebol+anedotas = felicidade masculina. Não havia volta a dar, era o que malta gostava: famosas de lingerie, os detalhes do último Ferrari, o que ia na cabeça do Mourinho, e umas anedotas sobre alentejanos.
O conteúdo da revista rondava quase sempre o mesmo: sexo e piadas estúpidas. E com essa brincadeira creio que fui dependente da FHM até 2008. As capas com Merche Romero, Jessica Athayde, Alexandra Lencastre, Helena Coelho, Liliana Queiroz, Sara Kostov, Diana Parente, e Joana Freitas, são as minhas favoritas e ainda tenho essas revistas guardadas e mais bem estimadas do que os meus livros escolares.
E é em Fevereiro de 2008 que alcançam o auge comercial: a capa é a Luciana Abreu, que antes de pousar de lingerie, era a Floribella, esse grande fenómeno que seduziu milhões de portugueses ao cantar “Pobres dos Ricos”. Esta produção fotográfica foi tema de café durante meses, e foi o recorde de vendas da FHM: 80 mil exemplares. Desde o neto até ao avô, todos quiseram ver a Floribella de cuecas.
Na minha opinião, foi aqui que começaram a fazer a cama.
Se não vejamos: dois meses depois, em Abril de 2008, a capa é a Filipa de Castro. É capa porque “aparece em tudo que é revistas cor-de-rosa”. Esta senhora não é nada, a não ser ex-mulher de um pseudo-jogador de futebol. É Hilariante! Em Agosto, a capa é a Ruth Marlene. A partir deste número, os fóruns da especialidade são inundados com críticas ao excesso de Photoshop usado nas fotografias.
Passa quase um ano, a revista vai tendo altos e baixos, e volta a cair na mesma esparrela: Filipa de Castro é capa de Abril de 2009! Exactamente um ano depois, Filipa volta a posar para a FHM. Desta vez até os criadores do Photoshop ficaram corados de vergonha. O uso excessivo da mais conhecida ferramenta para edição de imagens é ridículo. Ficou uma produção pimba e artificial. Mesmo ao gosto do mundo jet-set.
Um mês depois, quem posa para a FHM é a Gabi. Uma ex-namorada de Cristiano Ronaldo, que mais parecia um segurança de discotecas do que uma modelo. Em letras garrafais dizia: “Ronaldo deixa-se dominar na cama”. Quem faz manchetes deste tipo são essas revistas das tele-novelas com nomes de mulheres... Não uma revista como a FHM.
Aqui há tacho
A morte do artista aconteceu em Agosto de 2009. A Maya, a manda-chuva do jet-set, ficava em pele-de-galinha a cada mês que passava e não era convidada para posar para a Playboy. Fez birrinha e com o seu típico discurso do bota-a-baixo disse mal da Playboy como quem diz mal da bruxaria. (LOOOOOOOOOOL)
Este número foi o mais criticado de sempre: os fóruns entupiram com tantas condenações à fotografada e à produção fotográfica da candonga. Os sites que reproduzem as fotos das revistas masculinas – uma das causas do fim da FHM – foram inundados com comentários pouco saudáveis.
Foi o fim da FHM. Era previsível. Tenho quase a certeza que 70 % dos leitores ficaram desiludidos e desinteressaram-se de vez pela FHM que em tempos mudara realmente isto das revistas para Homens. Esses tempos acabaram. O que mudou de vez foram os homens portugueses: depois de ver aquela produção com a Maya, 10 em cada 7 homens ficaram impotentes. E não culpem o tabaco…
Apesar disso comprei a última FHM. Era a única coisa que podia fazer pela revista que me acompanhou durante a adolescência. E quase que chorei ó Sr. João! Tal como referi em Zé Einstein, substituía os livros de Matemática pelas FHM’s. Hoje não sou ninguém a matemática, mas orgulho-me de dizer que fui leitor da For Him Magazine enquanto ela era pura.
Sem tachos nem bruxas…
Até sempre FHM!
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