domingo, 31 de maio de 2009

Júlia & Goucha, Lda.

Tenho perdido algum tempo a ver o tão elogiado programa dos putos-prodigío que cantam aos domingos à noite. As crianças com idades compreendidas entre os 8 e 15 anos, vêm de todo o País, e cantam segundo o Moniz, “as mais belas canções de todos os tempos”. A coisa que estes prodígios têm em comum para além de cantarem bem, é terem uma vida bastante perturbada. Ou é a mãe do A que bebe litros e litros de vinho verde e depois chega a casa e arreia em tudo o que lhe aparece à frente. Ou é o irmão do B que nasceu com jeito para cantar, mas que trabalha numa caixa do Pingo Doce e tem uma namorada que só vê SIC. Ou pior ainda, é o miúdo C que com treze anos ainda não tinha vontade de brincar com a pilinha.

Coitadinhos...

A certeza com que ficamos é que um destes prodígios será o grande artista pimba no prazo de 10-20 anos. (Sim, porque o Tony ainda está aí para as curvas... e o filho também.)

Claro, artistas de música pimba: este género de música não dá muito trabalho a fazer, dá jeito porque podemos ir ao estrangeiro roubar umas músicas, é-nos garantido um Mercedes à porta de casa, e por último e melhor do que tudo o resto: vende que se farta! Aliás, o próprio programa encarrega-se logo de incutir a música pimba e o espírito desta aos ditos prodígios, organizando duetos com ilustres cantores da especialidade e os concorrentes.

(Até o Herman se meteu nisto... que tristeza)

Este programa foi rotulado logo desde o início como “uma grande festa de homenagem à música portuguesa”. Homenagear o nada. Cantores que são nada. Músicas que nada são.

Será que homenagearam o Manel Cruz? O Paulo Furtado? O JP Simões?

Claro que não!

Esses não fazem música para o povo, fazem música para quem gosta de música. Essa é a grande diferença entre os tidos ‘artistas nacionais’ de enorme gabarito que nada fazem, e os outros(poucos, mas bons) que lutam arduamente todos os dias para realmente homenagearem a música portuguesa.

Mas esses claro, nunca hão-de ser reconhecidos. É infelizmente este o Portugal em que vivemos...

O programa tem um jurí que está composto por quatro elementos. Duas senhoras que eu desconheço, e dois senhores que são conhecidos por terem uma vasta experiência musical. Um dos júris é o Pedro Granger, esse guru da música portuguesa que representou Portugal no Festival da Eurovisão em 1987, com o tema “Que Horas São?”. E o presidente do júri, é o madeirense Luís Jardim, esse sim um senhor da música, disso não hajam dúvidas. Aliás basta ver os nomes com que trabalhou: os Rolling Stones, Paul McCartney, Tina Turner, entre outros(José Castelo Branco também...). Muitas vezes tem um discurso “pra rachar ao meio”, mas é sem dúvida o único que domina o assunto por completo, e o único com coragem para dizer a um puto que mais vale dedicar-se a outra coisa qualquer em vez da música – coisa que a dupla Júlia & Goucha nunca fazem -. Em caso de empate é ele que decide quem ganha/perde ou passa/fica, portanto se as votações por telefone correrem mal, quem decide é o Jardim.

E claro existem os apresentadores.

Quem poderiam ser?

Quem é que tem uma postura quixotesca TVIzada?

A Júlia Pinheiro!

Só a pseudo-escritora é que tinha ‘pulmão’ para apresentar um programa deste género. É claro que ela sozinha tomava conta do assunto, mas para meter ‘ordem’ no circo, para ser a cereja no topo do bolo, faltava o Manuel Luís Goucha.

E esta dupla? Do melhor não é?

É por estas e por outras que dá gosto ver o canal 4!

Bom, então lá anda a Júlia aos gritos(ela não fala, grita), a elogiar os miúditos como nenhuma outra, e posso desde já afirmar que o seu próximo romance vai basear-se nas miseráveis vidas destas crianças. ‘Matéria’ não lhe falta...

Para a Júlia não basta actuar como um artista circense, ainda tem tiradas de génio:

- Qual é o mal de se ser ranhosa? Até a Maddona o é...

É preciso dizer mais alguma coisa acerca desta mulher?

Acompanhá-la, temos o nosso sempre-querido-e-divertido Goucha. O senhor que anima as manhãs de Portugal, também se achou capaz de dignificar(ou danificar?...) o bom nome TVI dando o ‘show’ que tão bem o caracteriza. Este felizmente nasceu sem aptidão para os gritos histéricos como a escritora, mas também faz a sua parte. Este é um perigo nos elogios:

- Opá és muita bom! Muita bom mesmo!

Ou

- Tens voz de sabonete rapariga!

E quando canta o miúdo mulato, o Manel começa logo:

- Yes We Can! Yes We Can! Yes We Can!

Enfim...

É esta a homenagem à música portuguesa prestada pelos senhores da TVI.

Celebram o nada. Celebram músicos que não são nada. Batem palmas aos miúdos que vêm do nada e para o nada vão.

O pior é que ainda existe gente que aplaude isto tudo...

Ps: Hoje é a Final, embora o vencedor já esteja anunciado há muito tempo. YES WE CAN!!!